10 experimentos famosos da psicologia

19A psicologia é uma área do conhecimento relativamente nova e ao mesmo tempo bastante vasta. Como consequência, vimos ao longo do último século muitos pesquisadores desenvolverem os mais diversos experimentos, alguns deles um tanto o quanto controversos, favorecidos em grande parte, como é de costume em uma nova ciência que ainda está em desenvolvimento, pelo pouco limite imposto a si.

Muitos desses experimentos considerados como “clássicos” não seriam permitidos pelos padrões éticos de hoje em dia e boa parte deles justamente contribuiu para o desenvolvimento de um código de ética para as pesquisas dessa área. Ainda assim, apesar de suas controvérsias, eles acrescentaram muito para o conhecimento do ser humano e são ensinados até hoje nos cursos de psicologia por todo o mundo.

É nesse espírito que separamos para você dez experimentos de psicologia mais famosos.

  1. O EXPERIMENTO DO PEQUENO ALBERT

Em 1920 na Universidade John Hopkins, o eminente psicólogo comportamental John B. Watson, conduziu um estudo de condicionamento clássico, um fenômeno que emparelha um estímulo condicionado a um incondicionado até que eles produzam o mesmo resultado. Esse tipo de condicionamento pode criar uma resposta numa pessoa ou animal em relação a um objeto ou som que era anteriormente neutro.

O condicionamento clássico é mais comumente associado com Ivan Pavlov, que tocava uma campainha toda vez que alimentava o seu cachorro até o ponto em que o mero som da campainha fazia o cachorro salivar (no caso, o alimento era o estímulo incondicionado, o que resultava numa resposta automática do organismo, o salivar, e o sino o estímulo condicionado, que inicialmente não gerava nenhuma resposta, mas que ao ser associado ao alimento passou a gerar a mesma resposta que este).

Watson, inconformado com as explicações psicanalíticas reinantes em sua época quanto ao funcionamento mental, testou o condicionamento clássico em um bebê de 9 meses chamado Albert. O pequeno Albert começou o experimento amando animais, particularmente um rato branco. Watson começou a emparelhar a presença do rato com um som estridente de um martelo batendo em metal o que fez com que Albert desenvolvesse medo do rato branco, assim como da maioria dos animais e objetos peludos.

Sua conclusão e crítica à psicanálise veio em um artigo no qual ele diz que, dada a oportunidade, freudianos no futuro viriam a analisar o medo de Albert de casacos de pele branca, e poderiam extrair deste o relato de um sonho do qual, sob sua análise, iria demonstrar que aos três anos de idade Albert tentou brincar com os pelos pubianos de sua mãe e foi repreendido. Sua finalidade era a de demonstrar que distúrbios emocionais em adultos não precisam ser sempre atribuídos a algum tipo de trauma sexual na infância.

O experimento é considerado particularmente antiético hoje em dia porque Albert nunca foi “dessensibilizado” das fobias que Watson produziu nele (O garoto morreu de uma doença não relacionada aos 6 anos de idade então, os médicos não foram capazes de determinar se as fobias dele teriam perdurado até a idade adulta).

 

 

  1. EXPERIMENTO DA CONFORMIDADE DE ASCH

Solomon Asch aplicou seu experimento dos efeitos da conformidade na escola superior Swarthmore em 1951 ao colocar um participante num grupo de pessoas que tinham como tarefa combinar linhas de mesmo comprimento. Cada indivíduo era solicitado a anunciar qual das três linhas era a de comprimento mais próximo de uma linha de referência.

O que os participantes do experimento não sabiam é que os demais sujeitos do grupo aos quais eles eram atribuídos eram atores em parceria com o experimentador, instruídos a dar a resposta certa duas vezes e então, trocar e todos darem a mesma resposta errada.

Asch queria ver se o participante iria se conformar e começar a também dar a resposta errada, considerando que ele, então, seria a única pessoa a dar uma resposta diferente. 37 dos 50 participantes concordaram com o grupo (de atores) que dava a resposta errada a despeito das evidências físicas contrárias.

 

 

  1. O EFEITO DO ESPECTADOR

Em 1968, John Darley and Bibb Latané desenvolveram um interesse em testemunhas de crimes que não tivessem agido para defender a vítima. Eles estavam particularmente intrigados pelo assassinato de Kitty Genovese, uma jovem mulher cujo assassinato foi testemunhado por várias pessoas, mas que ainda assim não foi impedido.

A dupla conduziu um estudo na universidade de Columbia no qual eles deram a um participante um questionário e o deixaram sozinho no ambiente para preenche-lo. Uma fumaça inofensiva começaria a entrar na sala após um curto tempo. O estudo demonstrou que os participantes que estavam sozinhos reagiam muito mais rápido para reportar a fumaça do que os participantes que tiveram a mesma experiência, só que num grupo.

A conclusão retirada desse experimento seria a de que pessoas em grupo tenderiam a se conformar ao comportamento do grupo, com uma maior probabilidade de se eximir da responsabilidade, fenômeno que veio a ser conhecido como “difusão de responsabilidade”.

 

 

  1. O EXPERIMENTO DE MILGRAM

Imagine a seguinte situação. Você se inscreveu para participar de um experimento psicológico sobre os efeitos da punição para a memória. Chegando lá você é conduzido a uma sala com mais uma pessoa e antes de começar é sorteado quem de vocês dois será o entrevistador e quem será o entrevistado.

Após você ter sido sorteado como entrevistador, lhe é instruído que você deverá fazer uma série de perguntas ao outro participante, que se encontra agora numa outra sala, e que a cada resposta errada você deverá lhe aplicar um choque, inicialmente fraco, acionando um botão num aparelho a sua frente, e que a cada resposta errada você deverá ir aumentando gradualmente a intensidade do choque.

Vale frisar que no aparelho a sua frente existe um sistema visual de gradação das intensidades do choque que ressaltam a periculosidade dos mesmos, indo de leve à perigoso. Levando-se isso em consideração, é bem provável que você no começo se sinta à vontade ao aplicar os choques, a princípio fracos e inofensivos, mas que de acordo com o que estes forem se intensificando você se sinta mais e mais hesitante. Ainda assim, o experimentador lhe assegura que ele se responsabiliza e pede para que você continue.

A medida que os choques vão aumentando de intensidade, o outro participante começa a gritar cada vez mais alto e desesperadamente refletindo a intensidade da punição.

Agora eis a pergunta. Considerando que este é um experimento justamente sobre os efeitos da punição na memória, ou seja, que a situação condiz com os pressupostos do experimento, você aplicaria os choques? E se sim, até aonde você iria?

Obviamente que o participante ao qual eram administrados os choques não recebia nenhum choque de verdade. Este era um ator trabalhando em parceria com o experimentador, mas os participantes não sabiam disso. O sorteio para definir quem seria o entrevistador e o entrevistado tinha como função justamente reforçar a ideia de que “qualquer um poderia ser tanto um quanto outro”, dissuadindo assim os participantes da impressão de que tudo poderia ser uma armação. O que estes não sabiam é que o sorteio era feito de tal forma que os sujeitos experimentais sempre caiam como entrevistadores.

E foi assim que o psicólogo da universidade de Yale Stanley Milgram orquestrou o que viria a ser um dos mais famosos experimentos da psicologia.

Descendente de pais sobreviventes do horror do Holocausto, Milgram esperava compreender melhor como tantas pessoas vieram a participar dos atos cruéis tais como os perpetrados durante o Holocausto. Ele teorizou que as pessoas geralmente estão dispostas a obedecer a figuras de autoridade, levantando a questão, “Será que Eichmann e seus milhares de cúmplices no Holocausto estavam apenas seguindo ordens?”. Em 1961, ele começou então a conduzir experimentos de obediência.

Milgram descobriu que a maioria das pessoas seguia as ordens para continuar a aplicar os choques a despeito do claro desconforto ou dor do “aprendiz”. Se os choques fossem reais e de acordo com a voltagem descrita em suas legendas, a maioria teria, na verdade, matado o “aprendiz” no outro quarto.

Diversos outros experimentos foram conduzidos posteriormente por outros eminentes psicólogos que atestaram a tendência do ser humano a atribuir a responsabilidade por certos atos à figuras de autoridades referentes ao assunto/situação em pauta, pois partimos do pressuposto de que se aquela figura é uma autoridade no assunto, então, ela deve saber o que está fazendo.

Sugestão de filme sobre o tema:

Experimentos (2015)

O Leitor (2008)

 

 

  1. O EXPERIMENTO DOS MACACOS DE HARLOW

Em 1950, Harry Harlow da universidade de Wisconsin queria testar uma concepção bastante difundida na época de que a dependência demonstrada por bebês em relação às suas mães era decorrente de suas necessidades alimentares, de que o afeto era um tipo de subproduto dessa necessidade básica mais importante.

Para testar essa hipótese Harlow utilizou macacos rhesus (reso) ao invés de bebês humanos. No experimento, o macaco era retirado de sua mãe que era substituída por duas “mães”, uma feita de pano e outra de arame. A “mãe” de pano não tinha nenhuma função além de sua sensação de conforto, enquanto a “mãe” de arame alimentava o macaco através de uma mamadeira, sem inversamente oferecer nenhum tipo de conforto.

O que Harlow constatou era que o macaco passava a maior parte do seu dia com a “mãe” de pano, e apenas cerca de uma hora por dia próximo a “mãe” de arame, a despeito da associação entre alimento e a mãe de arame.

Harlow utilizou de intimidação para provar que o macaco achava a “mãe” de pano superior. Ele assustava os macacos e observava enquanto eles corriam em direção a mãe de pano. Harlow também conduziu experimentos que isolavam os macacos da companhia de outros macacos para demonstrar que aqueles que não aprenderam a ser parte do grupo numa idade precoce eram incapazes de assimilar e acasalar quando ficavam mais velhos.

 

 

  1. DESAMPARO APRENDIDO

Em 1965, Seligman utilizou cachorros para testar como um sujeito poderia vir a perceber a questão do controle de seus ambientes e suas respostas. Para isso os experimentadores colocavam um cachorro em um dos lados de uma caixa que era dividida na metade por uma barreira baixa. Então eles administravam choques, o que era evitável se o cachorro pulasse por cima da barreira para o outro lado. Os cachorros rapidamente aprendiam como evitar de receber o choque.

O grupo de Seligman então pegou um outro grupo de cachorros e começou a lhes dar choques alheatórios que eram completamente inevitáveis. No dia seguinte, esses cachorros foram colocados na caixa com a barreira. A despeito das novas circunstâncias que os teriam permitido escapar dos dolorosos choques, esses cachorros não tentaram pular a barreira, eles apenas choravam, demonstrando um desamparo aprendido.

 

 

  1. O EXPERIMENTO DE ROBBERS CAVE

Muzafer Sherif conduziu o experimento de Robbers Cave no verão de 1954, testando dinâmicas de grupo face a conflitos. Um grupo de pré-adolescentes foi trazido para um acampamento de verão, mas eles não sabiam que os conselheiros eram, na verdade, psicólogos pesquisadores. Eles foram então, separados em grupos diferentes e não tiveram contato uns com os outros a não ser quando estavam disputando eventos esportivos ou outras atividades.

Os pesquisadores demonstraram como é fácil estabelecer a animosidade entre grupos ao restringir o seu contato e estimular a competição. Os experimentadores orquestraram uma tensão crescente entre os dois grupos, particularmente por manter a competição latente. Então, Sherif criou alguns problemas, tais como falta de água, que requeriam que ambos os times se unissem e trabalhassem em conjunto para alcançar o obtivo. Após alguns desses trabalhos, os grupos se tornaram completamente não competitivos e amigáveis.

Sugestão de filme sobre o tema:

I declare war (2012)

 

 

  1. O TESTE DO MARSHMALLOW

Desde muito cedo em seu desenvolvimento teórico a psicanálise argumentava que o desenvolvimento saudável/funcional seria aquele no qual o indivíduo vai gradualmente transcendendo aquilo que estes chamaram de princípio de prazer, deste entendesse uma necessidade de gratificação mais imediata que leva em consideração apenas as vicissitudes e demandas do desejo per se, por aquilo que estes chamaram de princípio de realidade, que inversamente, busca adequar o desejo às condições e possibilidades disponíveis na realidade o que resultaria num retardamento da gratificação.

Seria então, a capacidade de retardar a gratificação um indicador de sucesso futuro, de pessoas que sabem esperar para obter aquilo que desejam, que entendem que trabalho e conquistas requerem tempo, que sabem administrar melhor (internamente) a frustração de uma gratificação mais lenta? Foi isso que Walter Mischel da universidade de Stanford tentou descobrir em seu experimento do teste do Marshmallow em 1972.

Crianças entre 4 e 6 anos foram levadas até uma sala na qual foi colocado um marshmallow na mesa na frente delas. Antes de deixar cada uma das crianças sozinhas na sala, o experimentador disse que elas receberiam um segundo marshmallow se esperassem 15 minutos sem comer aquele marshmallow.

O experimentador gravou o tempo que cada criança conseguiu resistir sem comer o marshmallow e depois averiguou se o tempo de espera tinha alguma correlação com o sucesso da criança na vida adulta. Uma minoria das 600 crianças comeu o marshmallow imediatamente e um terço conseguiu retardar a gratificação por tempo o suficiente para receber o segundo marshmallow.

Em um estudo longitudinal Mischel descobriu que aqueles que retardaram a gratificação eram significativamente mais competentes e receberam notas mais altas no SAT (similar ao exame do Enem) do que seus iguais, o que indica que esta característica permanece com a pessoa ao longo da vida.

 

 

  1. OLHOS AZUIS

Jane Elliott não era uma psicóloga, mas ela desenvolveu um dos mais famosos e controversos exercícios em 1968 ao dividir os estudantes em um grupo de “olhos azuis” e outro de “olhos castanhos”. Elliott era uma professora do ensino fundamental em Iowa que estava tentando dar uma experiência em primeira mão aos seus estudantes sobre discriminação no dia após o assassinato de Martin Luther King Jr.

Após dividir a turma em grupos, Elliot começou a citar pesquisas científicas espúrias que diziam que um grupo era superior ao outro. Ao longo do dia, o grupo seria tratado como tal. Elliot descobriu que bastou apenas um dia para o grupo “superior” se tornar mais cruel e o “inferior” ficar mais inseguro. Os grupos de olhos castanhos e azuis então trocaram de lado para que todos os estudantes passassem pelo mesmo preconceito.

 

 

  1. O EXPERIMENTO DA PRISÃO DE STANFORD

Em 1971, Philip Zimbardo da universidade de Stanford conduziu o seu famoso experimento da prisão, que visou examinar o comportamento dos grupos e a importância dos “papéis sociais”. Zimbardo e sua equipe selecionaram um grupo de 24 homens estudantes que foram considerados saudáveis, tanto física quanto psicologicamente. Os homens haviam se inscrito para participar de um “estudo psicológico da vida na prisão”, que lhes daria 15 dólares por dia. A metade foi designada aleatoriamente para ser prisioneiro e a outra metade foi designada como guardas. O experimento aconteceu no porão do departamento de psicologia de Stanford onde a equipe de Zimbardo montou uma prisão improvisada. Os experimentadores se deram ao trabalho de criar uma experiência realista para os prisioneiros, o que incluía “detenções falsas” na casa dos participantes.

Foi dado aos prisioneiros uma introdução razoavelmente padrão da vida na prisão, o que incluía serem despidos e atribuídos uniformes degradantes. Os guardas eram instruídos com instruções vagas de que eles nunca deveriam ser violentos com os prisioneiros, mas que deveriam se manter no controle. O primeiro dia passou sem nenhum incidente, mas os prisioneiros se rebelaram no segundo dia ao se barricarem em suas celas e ignorando os guardas. Esse comportamento chocou os guardas e provavelmente levou ao abuso psicológico que se seguiu. Os guardas começaram a separar os prisioneiros “bons” e “maus”, e distribuíram punições que incluíam flexões, confinamento em solitárias, e humilhações públicas que levaram a rebelião dos prisioneiros.

Zimbardo explicou, “em apenas alguns dias, nossos guardas se tornaram sádicos e nossos prisioneiros ficaram deprimidos e mostraram sinais de estresse extremo”. Dois prisioneiros abandonaram o experimento, um eventualmente se tornou um psicólogo e consultor para prisões. O experimento foi originalmente feito para durar duas semanas, mas ele terminou antes quando a futura esposa de Zimbardo, a psicóloga Christina Maslach, visitou o experimento no quinto dia e disse para ele, “eu acho que é horrível o que você está fazendo com esses garotos”.

Sugestão de filme sobre o tema:

A experiência (2001)

Detenção (2010)

The Stanford Prison Experiment (2015)