Envelhecer leva à estabilidade emocional e felicidade

É uma predição que muitas vezes traz grande preocupação: Em 20 anos, haverá mais pessoas com mais de 60 anos do que com menos de 15. Alguns temem que isso signifique um envelhecimento da sociedade, com um número crescente de pessoas com problemas de saúde ou que não produzem mais e menos jovens para cuidar deles enquanto também mantém a produtividade do país.

As preocupações são válidas, mas um novo estudo da Stanford University mostra que há um outro lado a ser considerado quando falamos sobre o envelhecimento da população. “À medida que envelhecemos, tendemos a nos tornar mais estáveis emocionalmente. E isso se traduz em vidas mais longas e mais produtivas, que oferecem mais benefícios do que problemas”, disse Laura Carstensen, principal autora do estudo.

“À medida que as pessoas envelhecem, elas passam a ser mais emocionalmente equilibradas e mais capazes de resolver problemas emocionais complexos”, disse Carstensen – professora de psicologia e diretora do Stanford Center on Longevity. “Podemos estar vendo um grupo maior de pessoas que podem se relacionar com um número maior de pessoas. Eles se importam mais e são mais empáticos com os problemas, e isso pode levar a um mundo mais estável”.

Entre 1993 e 2005, Carstensen e seus colegas estudaram aproximadamente 180 americanos entre as idades de 18 e de 94. Ao longo dos anos, alguns participantes morreram e outros envelheceram, dessa forma, participantes adicionais foram incluídos.

Durante uma semana a cada cinco anos, os participantes do estudo recebiam pagers e eram obrigados a responder imediatamente a uma série de perguntas sempre que o dispositivo apitasse. Os questionários periódicos destinavam-se a traçar o quão felizes, satisfeitos e confortáveis ​​os participantes estavam em um determinado momento.

Enquanto pesquisas anteriores estabeleceram uma correlação entre envelhecimento e felicidade, o estudo de Carstensen é o primeiro a rastrear as mesmas pessoas durante um longo período de tempo para examinar como elas mudaram.

A pesquisa foi um esforço para responder a perguntas feitas por cientistas sociais: Os idosos americanos que dizem ser felizes simplesmente fazem parte de uma era que os predispõe a serem felizes? Ou a maioria das pessoas – tendo tido uma vida fácil ou difícil – tem, dentro de si, um potencial para chegar aos seus anos dourados com um sorriso? A resposta tem importantes implicações para as futuras sociedades em envelhecimento.

“Nossos resultados sugerem que não importa quando você nasceu”, disse Carstensen. “Em geral, as pessoas ficam mais felizes à medida em que envelhecem.”

Ao longo dos anos, os indivíduos mais velhos relataram ter menos emoções negativas e mais positivas em comparação com seus dias mais jovens. Mas mesmo com o bom superando o mau, as pessoas mais velhas estavam inclinadas a relatar uma mistura de emoções positivas e negativas com mais frequência do que os participantes mais jovens.

“À medida que as pessoas envelhecem, elas ficam mais conscientes da própria mortalidade”, disse a autora. “Então, quando elas veem ou experimentam momentos maravilhosos, isso muitas vezes vem com a percepção de que a vida é frágil e chegará ao fim, mas isso é uma coisa boa, é um sinal de forte saúde emocional e equilíbrio”.

A autora atribui a mudança nos idosos à sua teoria da “seletividade socioemocional” – uma maneira científica de dizer que as pessoas investem no que é mais importante para elas quando o tempo é limitado.

Enquanto adolescentes e jovens adultos experimentam mais frustração, ansiedade e decepção sobre coisas como resultados de provas, objetivos de carreira e encontrar uma alma gêmea, as pessoas mais velhas normalmente já fizeram as pazes com as realizações e fracassos da vida delas. Em outras palavras, elas têm menos coisas sobre as quais se estressar.

“Tudo isso sugere que, à medida que nossa sociedade estiver envelhecendo, teremos um recurso maior”, disse Carstensen. “Se as pessoas se tornam mais equilibradas à medida que envelhecem, as sociedades mais velhas podem ser sociedades mais sábias e mais amáveis.”

Então, o que fazemos com aquele estereótipo do “velho rabugento”?

“A maioria dos homens velhos mal-humorados lá fora são jovens rabugentos que envelheceram”, disse Carstensen. “O envelhecimento não vai transformar alguém mal-humorado em alguém que é alegre e feliz. Mas a maioria das pessoas vai gradualmente se sentir melhor à medida em que envelhece.”