O cuidado com filhos viciados em recuperação.

Mesmo que seu filho esteja em processo de recuperação de algum vício, sua vida provavelmente nunca mais será a mesma.

 

A maneira de se lidar com um filho em processo de recuperação de algum tipo de vício nunca é uma tarefa fácil devido a esmagadora culpa que muitos pais trazem para a situação ou a enorme quantidade de ressentimento em relação as escolhas ruins ou pouca força de vontade que você sente que o vício do seu filho representa.

Em virtude disto, é comum quando nos vemos imersos no turbilhão emocional decorrente do processo de adicção e recuperação de um filho ou familiar próximo, cometermos alguns erros que por um lado podem parecer simples ou insignificantes, mas que podem vir a ter algumas consequências negativas num processo já, por si só, deveras difícil.

Abaixo segue algumas sugestões básicas, que ainda assim talvez mesmo por causa disso muitas famílias acabam por ignorá-las, de como enfrentar melhor tal situação e estar preparado para a nova realidade da família.

Não trabalhe mais do que o viciado em recuperação.

Você pode estar investindo uma gigantesca quantidade de energia no que se refere a ajudar seu filho a superar seu vício. Muitas vezes, os pais investem uma quantidade significativamente maior de energia do que a que o próprio viciado possa estar investindo. Isso é parte da necessidade de cuidar ou concertar seu filho que nasce da culpa ou ressentimento. Infelizmente, tal como conselheiros aprendem cedo em suas práticas, até que um cliente esteja pronto para a mudança, não existe absolutamente nada que o conselheiro possa fazer para fazer com que a mudança realmente aconteça. Não existe recompensa por trabalhar mais do que o cliente – ou para um pai/mãe por trabalhar mais do que uma criança em recuperação.

Você pode bajular seu filho, fazê-lo se sentir culpado, ameaça-lo, cortar relações com ele, cobrir seus custos de tratamento, jogar fora sua bebida/pílulas/drogas, tirar seu carro (se ele não já o tiver perdido), trancafiá-lo. Seja qual for o exemplo, até que seu filho esteja pronto para começar o caminho para a sobriedade, nada que você faça irá mantê-lo na linha por muito tempo.

 

Seu filho e a sobriedade.

Avance até aquele ponto em que seu filho está finalmente sóbrio, finalmente tentando voltar para a terra dos vivos, e tentar vencer o vício e viver de acordo com as responsabilidades adultas e as expectativas de maturidade da sociedade. Esse pode ser um grande dia – um dia maravilhoso quando você está pronto(a) para celebrar e abraçar as esperanças que você tem do seu filho(a) e seu futuro. A bolha de esperança que você manteve lá em baixo na barriga (junto ao medo) se sente livre para subir e crescer um pouco.

É quase como a alegria que você sentiu quando viu seu filho(a) pela primeira vez – todos aqueles meses esperando ansiosamente pela as chegada em seus braços e a maravilhosa satisfação e encanto que você sentiu quando segurou aquele corpo pequeno e frágil perto do seu. Isso é quase o quão bom é quando você se sente seguro o suficiente para pensar que “talvez ele(a) esteja finalmente livre de verdade”.

Infelizmente, quer seu filho(a) esteja ou não livre e sóbrio, suas vidas provavelmente nunca mais serão as mesmas. Ou pelo menos não por um longo período. O medo da reincidência ou recaída espreita em sua mente notavelmente cedo no primeiro caminho de seu filho(a) à sobriedade. O andar entre ovos que você aprendeu durante a adicção ainda estão ataperando o chão – eles apenas parecem e dão a sensação de estar um pouco diferentes abaixo de seus pés agora.

 

Champagne NÃO é uma bebida de filhos em recuperação.

Se lembra que eu disse que você estaria ansioso(a) para celebrar o aparente sucesso de seu filho(a)? Bem, se você é como uma grande maioria das famílias hoje em dia, você pode estar pensando – “Eu quero celebrar – Eu vou estourar um champagne para celebrar!” ou “Ah, hora de celebrar, vamos estourar a rolha de uma garrafa de champagne.” Errado! Substâncias potencialmente viciantes não farão mais parte das celebrações da sua família quando seu filho(a) estiver por perto. Isso é extremamente difícil para alguns pais que querem acreditar que qualquer viciado em recuperação pode ainda assim ter “apenas um” e ficar bem. Outros pais podem pensar que uma taça de alguma bebida espumante qualquer para seu filho(a) em recuperação está bem enquanto “o resto de nós” bebemos aquele champagne borbulhante.

A hipervigilância que geralmente se desenvolve enquanto você vem a aceitar a realidade de que seu filho é um viciado e você começa a “ficar de olho” cada movimento dele(a) pode perdurar mesmo após seu filho estar em recuperação. Você pode, pelo resto da sua vida, ficar atentamente prestando atenção à seu humor e comportamentos procurando pelo menor sinal de recaída. Você pode se preocupar quanto aos amigos dele(a) e seus pais, se eles são parte da solução ou do problema enquanto seu filho(a) tenta se manter limpo. Se você possui álcool ou outras substâncias na sua própria casa, você pode ter que se lembrar de escondê-los quando seu filho vem visita-lo(a). Você pode vir a sempre contar o número de pílulas na embalagem após a visita do seu filho.

 

Gerenciamento tem os seus limites

Comportamentos suspeitos, ou novas paixões, passatempos ou companhias incomuns podem para todo o sempre enviar sinais de aviso a sua mente. Se ele dividir confidências sobre “problemas no trabalho”, seu primeiro pensamento será se ele está usando novamente. Se ela se relacionar com alguém que você julga ser “um amante problemático”, você irá provavelmente achar que a recaída total está por vir. A bolha de esperança dos pais é menos resiliente uma vez que estes tenham vistos seu filho(a) chegar ao fundo do poço. Especialmente se essa escalada para fora do poço não for a primeira vez que o caminho para a sobriedade tenha começado.

Algumas vezes, nossos medos sobre nossos filhos irão ultrapassar seus próprios medos acerca de si mesmos. Nós temos uma perspectiva de cuidado e preocupação – o senso gerenciamento de seu bem-estar, por assim dizer – que nos coloca numa posição de prever os perigos em potencial do campo minado a frente algumas vezes antes mesmo que nossos filhos pisem nelas. Essa é a parte difícil de sermos pais – saber as possíveis consequências de má escolhas e de compromissos/força de vontade insuficientes para com a sobriedade, e sermos incapazes de “forçar” que nossos filhos os evitem.

 

Abraçando o novo normal

É excitante reconhecer que nosso filho retornou a vida sóbria, mas esteja ciente que agora existe um “novo normal” para a sua família. Nada será novamente o mesmo uma vez que você tenha visto seu filho(a) cair no abismo da adicção. Manter o espírito em alta envolve manter seu filho(a) longe das seduções da adicção. Recaídas são muito frequentes, então permita a si mesmo(a) celebrar os primeiros passados em direção a recuperação, mas esteja ciente que a hipervigilância é normal e as escolhas que você faz quando na companhia de seu filho(a) podem enviar mensagens de apoio ou descaso por seus esforços. Seja sábio no que você faz.