O papel da emoção na memória

A emoção nos ajuda a lembrar de coisas? Essa não é uma pergunta fácil de responder, o que não é de se surpreender quando você considera as complexidades da emoção.

Em primeiro lugar, existem dois elementos bem diferentes nessa questão. O primeiro diz respeito ao conteúdo emocional da informação que você deseja lembrar. O segundo diz respeito ao efeito do seu estado emocional em sua aprendizagem e lembrança.

O efeito do conteúdo emocional

Parece claro que, como regra geral, lembramos mais de eventos emocionalmente carregados do que dos chatos. Pesquisas mais recente sugerem que são as emoções despertadas, e não o significado pessoal do evento, o que torna esses eventos mais fáceis de lembrar.

A memória de imagens e eventos fortemente emocionais podem depender de outras informações. Sendo assim, talvez seja menos provável que você se lembre de informações que ocorreram após um evento de grande intensidade emocional. Efeito este que parece ser mais forte nas mulheres.

Parece que as memórias são tratadas de forma diferente, dependendo se elas estão associadas a emoções agradáveis ​​ou desagradáveis ​​e que esta regra geral parece ser afetada por fatores individuais como, por exemplo, a idade. Especificamente, as emoções agradáveis ​​parecem desaparecer mais devagar de nossas lembranças do que emoções desagradáveis, mas entre pessoas com depressão leve, as emoções desagradáveis ​​e agradáveis ​​tendem a desvanecer-se uniformemente, enquanto que adultos mais velhos parecem regular suas emoções melhor do que as pessoas mais novas e podem codificar menos informações negativas.

Uma investigação de memórias autobiográficas descobriu que as memórias positivas continham mais detalhes sensoriais e contextuais do que memórias neutras ou negativas. Isso era verdade, independentemente dos diferentes estilos de enfrentamento pessoal.

O efeito do humor

Outro aspecto da emoção é o humor – seu estado emocional no momento da codificação ou recuperação. Recentemente houve muitas pesquisas sobre o efeito do humor na memória. É claro que o humor afeta o que é notado e codificado. Isso se reflete em dois efeitos (semelhantes, porém sutilmente diferentes):

  • Congruência do humor: por meio do qual lembramos eventos que combinam com nosso humor atual (assim, quando estamos deprimidos, tendemos a lembrar eventos negativos); e

  • Dependência do humor: o que se refere ao fato de que é mais fácil lembrar quando seu humor na recuperação corresponde ao seu humor na codificação (assim, suas chances de lembrar um evento ou fato são maiores se você evoca o estado emocional em que estava no momento de experimentar o evento ou aprender o fato).

Uma questão interessante no estudo da emoção é se o grau em que a sentimos é influenciado pela nossa expressão. Em outras palavras, uma pessoa que esconde o que está sentindo sente tão profundamente como uma pessoa que exibe abertamente sua emoção? Será que a expressão da emoção, em si mesma, afeta a forma como nos sentimos?

A maneira como as pessoas controlam suas reações a eventos emocionais parece afetar a memória que elas têm da situação em questão. Em uma pesquisa, algumas pessoas assistiram um vídeo de um evento emocional, mas foram instruídas a não demonstrar as suas emoções. Depois disso, elas demonstraram ter uma memória mais pobre das coisas que foram ditas e feitas no vídeo do que os sujeitos que não receberam tais instruções.

No entanto, quando se trata de um conteúdo emocional, não podemos simplesmente dizer que o estado emocional afeta a memória. A natureza da emoção que está sendo sentida também é importante. E isso, também, não é tão preto no branco. Não podemos simplesmente dizer, por exemplo, que a ansiedade prejudica a memória e a felicidade a melhora.

Um pequeno estudo em que os participantes realizaram tarefas cognitivas difíceis depois de assistir vídeos curtos projetados com o objetivo de desencadear um de três estados emocionais (agradável, neutro ou ansioso), descobriu que a ansiedade leve melhorou o desempenho em algumas tarefas, mas prejudicou o desempenho em outras. Da mesma forma, estar de bom humor impulsionou alguns tipos de desempenho, mas prejudicou outros tipos.

Isso pode ter algo a ver com o fato de que diferentes emoções envolvem diferentes regiões cerebrais.

Regiões cerebrais envolvidas na relação emoção-memória

A região cerebral mais fortemente envolvida na memória emocional é a amígdala, região criticamente envolvida no cálculo do significado emocional dos eventos e que, através da sua conexão com regiões cerebrais que lidam com experiências sensoriais, também parece ser responsável pela influência da emoção na percepção – alertando-nos a prestar atenção em eventos emocionalmente significativos, mesmo quando não está prestando atenção. A amígdala parece ser particularmente influenciada por experiências negativas.

Mas não é apenas a amígdala que está envolvida nesta interação complexa. O cerebelo, mais fortemente associado às habilidades de coordenação motora, também pode estar envolvido na lembrança de emoções fortes, em particular, na consolidação de memórias a longo prazo de medo.

Partes do córtex pré-frontal também parecem estar envolvidas. Um estudo descobriu que uma região do córtex pré-frontal foi influenciada conjuntamente por uma combinação do estado de humor e tarefa cognitiva, mas não por qualquer um deles sozinhos. Outro estudo descobriu que o córtex pré-frontal dorsolateral ficava mais ativo quando os participantes eram surpreendidos por respostas inesperadas.

Seria a surpresa uma emoção? Parece que a surpresa está numa fronteira difusa entre dois fenômenos relacionados – emoção e atenção. Curiosamente, a nossa compreensão desses dois fenômenos é relativamente parecida – ainda desafortunadamente inadequada (mas melhorando muito!).

A relação entre emoção e atenção

Pesquisas sugerem que estímulos emocionais e “funções de atenção” se movem em fluxos paralelos através do cérebro antes de serem integrados em uma parte específica do córtex pré-frontal do cérebro (o cingulado anterior). É por isso que estímulos emocionais são mais propensos a interferirem na sua concentração em tarefas como dirigir do que simples distrações.

Acredita-se que a atenção não é, como se pensava antigamente, um processo global, mas consiste em pelo menos três processos distintos, cada um localizado em diferentes partes dos lobos frontais. Esses são:

  • um sistema que nos ajuda a manter um estado geral de prontidão para responder;

  • um sistema que define nosso limiar para responder a um estímulo externo; e

  • um sistema que nos ajuda a atender seletivamente aos estímulos apropriados.

Correspondentemente, a excitação emocional nos ajuda a manter uma “prontidão para responder”, e também tem um efeito seletivo nos estímulos particulares que observamos e codificamos. Talvez, de fato, a atenção possa ser pensada como um estado de atividade desencadeado por vários tipos de excitação emocional e modulado por tal excitação.

Como as emoções afetam a memória?

Bem, ainda não estamos certos quanto aos detalhes, mas parece haver dois aspectos principais nisso. Um deles é que os hormônios do estresse, como o cortisol, interagem com a amígdala. O outro é que a amígdala pode alterar a atividade de outras regiões cerebrais. Uma das maneiras como ela faz isso é atuando nos processos de consolidação (principalmente no hipocampo).

É, talvez, esse efeito na consolidação que se reflete em um estudo usando estímulos faciais (envolvendo a inversão dos olhos e boca com o objetivo de mudar o impacto emocional de um rosto sem alterar significativamente suas características visuais), que indicava que a carga emocional de um estímulo não afeta a forma como o percebemos, mas, tem um efeito na forma como nos tornamos habituados a ele se o vemos muitas vezes.

Neste estudo, no entanto, parece claro que, em algumas circunstâncias e para alguns tipos de estímulos, pelo menos, os atributos emocionais de um estímulo afetam a forma como o percebemos e o processamos – isto é, a como codificamos a memória.

Uma das maneiras pelas quais ela pode fazer isso é através do envolvimento de diferentes regiões do cérebro, dependendo da natureza da emoção experimentada. Um estudo de imagem recente descobriu que contextos emocionais positivos evocavam atividade no giro fusiforme direito (entre outras regiões) e contextos emocionais negativos evocavam atividade na amígdala direita.

Outra maneira pela qual as emoções podem afetar a codificação de memória é através da memória de trabalho. Foi sugerido que, no caso da ansiedade, parte da memória de trabalho pode ser ocupada com a nossa consciência de medos e preocupações, deixando menos capacidade disponível para o processamento. Em apoio a esta teoria, um estudo descobriu que pessoas ansiosas com relação a matemática têm problemas com a memória de trabalho quando fazem matemática.

Diferenças de idade e gênero

Parece também que existem diferenças na forma como homens e mulheres processam memórias emocionais. As mulheres são melhores em lembrar de lembranças emocionais. Elas também parecem ser mais propensas a esquecer as informações apresentadas imediatamente antes de uma informação emocionalmente carregada. Isso sugere que as mulheres são mais afetadas pelo conteúdo emocional – uma sugestão compatível com a descoberta de que mulheres e homens tendem a codificar experiências emocionais em diferentes partes do cérebro. Nas mulheres, parece que a avaliação da experiência emocional e a codificação da memória estão muito mais integradas.

Há também uma diferença na idade. A tendência de deixar as memórias desagradáveis ​​desaparecer mais rapidamente do que as agradáveis ​​fica mais forte à medida que envelhecemos. Este é, talvez, um reflexo da aparente habilidade das pessoas mais velhas em regular suas emoções de forma mais eficaz do que as pessoas mais jovens, mantendo sentimentos positivos e diminuindo os sentimentos negativos. Pesquisas preliminares do cérebro sugerem que, em adultos mais velhos, a amígdala é ativada igualmente por imagens positivas e negativas, enquanto que em adultos mais jovens, ela é mais ativada por imagens negativas. Pode ser que os adultos mais velhos codifiquem menos informações sobre imagens negativas. Também se especula que o declínio cognitivo relacionado à idade pode ser parcialmente causado por uma maior responsividade do cortisol ao estresse.