Qual é a causa da esquizofrenia?

Cientistas podem estar um passo mais perto de determinar a causa da esquizofrenia, depois de descobrir um processo genético anormal associado à doença que começa no útero, aproximadamente nas primeiras 12 semanas de gravidez. Isso significa que pode ser que no futuro, poderemos esta condição ainda no útero, antes mesmo do nascimento do bebê.

De acordo com o Instituto Nacional de Saúde Mental, cerca de 1,1% dos adultos nos Estados Unidos têm esquizofrenia – um distúrbio de saúde mental caracterizado por alucinações, delírios e pensamentos anormais.

Embora as causas exatas da esquizofrenia ainda não estejam claras, os pesquisadores sabem há muito tempo que a doença pode ocorrer em famílias, sugerindo uma origem genética. Além disso, um número crescente de estudos descobriu mutações genéticas associadas a um aumento do risco de esquizofrenia.

No estudo em questão, Stachowiak e colegas procuraram aprender mais sobre os processos genômicos que ocorrem no útero que podem influenciar o risco de desenvolvimento de esquizofrenia e publicaram os resultados na revista Schizophrenia Research.

A pesquisa consistiu em cultivar “mini cérebros” em condições de laboratório, o que permitiu aos cientistas identificar rupturas nas células-tronco que cercam os ventrículos, ou cavidades cerebrais, logo após duas semanas de crescimento – o equivalente ao primeiro trimestre da gravidez.

De acordo com a equipe de pesquisadores, este é um passo importante na compreensão das origens biológicas do distúrbio cerebral, que foi descrito pela primeira vez em um antigo texto médico egípcio chamado Ebers Papyrus em 1550 aC.

Segundo Michal K. Stachowiak, um dos pesquisadores da Universidade Estadual de Nova York, em Buffalo, “esta doença foi descaracterizada por 4.000 anos”, e agora, finalmente temos “evidências de que a esquizofrenia é um distúrbio que resulta de uma alteração fundamental na formação e estrutura do cérebro”.

A equipe cresceu o que é conhecido como organoides cerebrais, órgãos em miniatura semelhantes ao cérebro, usando células da pele reprogramadas de três pessoas com esquizofrenia e quatro pessoas sem esquizofrenia (que estavam agindo como um grupo de controle).

Alimentados com nutrientes, ácidos e glicose corretos, esses mini-cérebros podem crescer e criar um neuroectoderma, o tecido que forma nosso cérebro. Eventualmente, ventrículos cerebrais, um córtex e uma região semelhante ao tronco cerebral também aparecem. Segundo Stachowiak, “o objetivo era, em certo sentido, recapitular etapas importantes na formação do cérebro que ocorrem no útero”.

À medida que os minúsculos modelos cerebrais começaram a tomar forma, os cientistas notaram anormalidades nos organoides desenvolvidos a partir de pacientes com esquizofrenia: as células progenitoras neurais que formam neurônios não eram distribuídas adequadamente e muito poucos neurônios maduros acabavam aparecendo no córtex.

Tais resultados correspondem a pesquisas anteriores em que a esquizofrenia tem sido associada a um colapso no funcionamento do córtex, área do cérebro que lida com coisas importantes como memória, atenção e processamento da linguagem.

“Nossa pesquisa mostra que a doença provavelmente começa durante o primeiro trimestre e envolve divisões celulares aceleradas, migração excessiva e diferenciação prematura das células neuroectodérmicas em neurônios”, diz Stachowiak. Sendo assim, “neurônios que conectam diferentes regiões do córtex, os chamados interneurônios, tornam-se mal direcionados no córtex da esquizofrenia, fazendo com que as regiões corticais sejam erroneamente conectadas”.

Uma vez identificada essa “conexão defeituosa” em um estágio tão inicial do desenvolvimento do cérebro, o próximo passo é descobrir maneiras pelas quais ela poderia ser tratada. Um caminho genômico defeituoso chamado de Sinal de FGFR1 (Integrated Nuclear FGFR 1 Signaling), objeto de pesquisas anteriores, pode conter a chave. Para isso, em estudos futuros, os pesquisadores planejam cultivar “mini cérebros” usando os mesmos processos usados no estudo atual, com o objetivo de compreender melhor como a desregulação da via nFGFR1 influencia o desenvolvimento inicial do cérebro, bem como fornecer um modelo para testar possíveis tratamentos.

Talvez medicamentos ou suplementos dietéticos possam ser administrados a mulheres grávidas nas quais um risco maior de esquizofrenia foi identificado, sugerem os pesquisadores, embora por enquanto seja cedo demais para afirmar tais coisas.

Os sintomas da esquizofrenia geralmente aparecem na adolescência ou no início da idade adulta, e estima-se que o distúrbio afete mais de 21 milhões de pessoas em todo o mundo, causando sérios problemas com processos de pensamento, percepção e senso de identidade.

Embora a condição possa ser administrada com drogas, não há cura: mas os pesquisadores continuam aprendendo mais sobre as raízes genéticas do distúrbio e exatamente como ele mexe com as conexões dentro do cérebro.