Sorria! Isso pode te deixar mais feliz

Nós sorrimos porque estamos felizes e franzimos a testa porque estamos tristes. Mas o inverso pode acontecer também? Uma série de estudos recentes sugere que nossas emoções são reforçadas – e, talvez, até dirigidas – por suas correspondentes expressões faciais.

Charles Darwin levantou pela primeira vez a idéia de que as respostas emocionais influenciam nossos sentimentos em 1872. “A expressão livre por sinais externos de uma emoção intensifica-a”, escreveu ele. O estimado psicólogo do século XIX, William James, chegou a afirmar que, se uma pessoa não expressa uma emoção, é porque ela não a sentiu em primeiro lugar. Embora poucos cientistas iriam concordar com tal afirmação hoje em dia, há evidências de que as emoções envolvem mais do que apenas o cérebro. O rosto, em particular, parece desempenhar um papel de grande importância.

Psicólogos da Universidade de Cardiff, no País de Gales, descobriram que as pessoas cuja capacidade de franzir a testa é comprometida por injeções cosméticas de botox são mais felizes, em média, do que as pessoas que conseguem franzir a testa. Os pesquisadores administraram um questionário de ansiedade e depressão em 25 mulheres, metade das quais receberam injeções de botox. As mulheres que receberam as injeções de botox relataram sentir-se mais felizes e menos ansiosas em geral; e mais importante, elas não relataram se sentir mais atraentes do que antes, o que sugere que os efeitos emocionais não foram impulsionados por um aumento de confiança que poderia resultar da natureza cosmética do tratamento.

“Parece que a maneira como sentimos nossas emoções não é apenas restrita ao nosso cérebro – há partes do nosso corpo que ajudam e reforçam os sentimentos que estamos tendo”, disse Michael Lewis, co-autor do estudo. Em um estudo relacionado, cientistas da Universidade Técnica de Munique, na Alemanha, escanearam os cérebros de pessoas que receberam injeções de botox em máquinas de ressonância magnética, enquanto pediam que elas imitassem caras irritadas. Eles descobriram que os sujeitos que receberam o botox tinham uma atividade muito menor nos circuitos cerebrais envolvidos no processamento das emoções – na amígdala, no hipotálamo e em partes do tronco cerebral – em comparação com o grupo controle que não havia recebido o tratamento.

O conceito também funciona de maneira oposta, aumentando as emoções em vez de suprimi-las. Pessoas que franzem a testa durante um procedimento desagradável relatam sentir mais dor do que aquelas que não franzem, de acordo com um estudo publicado em maio de 2008 no Journal of Pain. Pesquisadores aplicaram calor aos antebraços de 29 participantes, que foram convidados a fazer caras infelizes, neutras ou relaxadas durante o procedimento. Aqueles que exibiram expressões negativas relataram sentir mais dor do que os outros dois grupos. Lewis, que não estava envolvido nesse estudo, diz que planeja estudar o efeito que as injeções de botox têm sobre a percepção da dor. “É possível que as pessoas sintam menos dor se não conseguem expressá-la corretamente”, diz ele.

Mas todos nós ouvimos que não se deve reprimir nossos sentimentos – então, o que acontece se uma pessoa intencionalmente suprime suas emoções negativas de forma contínua? O trabalho da psicóloga Judith Grob, da Universidade de Groningen, na Holanda, sugere que essa negatividade suprimida pode “vazar” para outros domínios da vida de uma pessoa. Em uma série de estudos que realizou em seu doutorado, ela pediu aos participantes que olhassem imagens repugnantes enquanto escondiam suas emoções ou seguravam canetas em suas bocas de tal maneira que os impedisse de franzir a testa. Um terceiro grupo podia reagir à vontade.

Como esperado, os sujeitos em ambos os grupos que não podiam expressar suas emoções relataram sentir menos nojo do que os indivíduos do grupo controle (que podiam demonstrar nojo). Em seguida, ela deu aos sujeitos uma série de tarefas cognitivas que incluíam exercícios de preenchimento de lacunas. Ela descobriu que os sujeitos que haviam reprimido suas emoções tiveram um mau desempenho em tarefas de memória e preencheram as tarefas de preenchimento de lacunas com palavras mais negativas – por exemplo, elas preenchiam “gr_ss” como “gross” (nojento) em vez de “grass” (grama), por exemplo – em comparação com o grupo controle.

Segundo Grob, “as pessoas que costumam fazer isso regularmente podem começar a ver o mundo de uma forma mais negativa”. “Quando o rosto não ajuda a expressar a emoção, a emoção busca outros canais através dos quais se expressar”.

Ninguém sabe ainda porque nossas expressões faciais influenciam nossas emoções da maneira que parecem influenciar. As associações em nossa mente entre como nos sentimos e como reagimos podem ser tão fortes que nossas expressões simplesmente acabam reforçando as nossas emoções – pode não haver nenhuma razão evolutiva para essa conexão. Mesmo assim, nossos rostos parecem comunicar nosso estado de espírito não só aos outros, mas também para nós mesmos. “Eu sorrio, então, eu devo estar feliz”, diz Grob.